Iniciando essa postagem meio em dúvida se devo continuar ou não, pois esse é um assunto o qual prefiro evitar, por ser tão real e afetar tanto os amantes da leitura pelo País. É triste.
Certo, mas como tudo isso aconteceu? Como essa chamada Crise dos Livros começou?
A crise dos Livros começou em 2014 de forma gradual, com as mudanças governamentais a compra de livros das editoras para distribuição em bibliotecas públicas e escolas reduziu ou foi encerrada por completo (em alguns casos) e com isso as editoras perderam muito dinheiro. Ainda a ampliação do E–commerce (venda de livros pela internet) lançou um impacto nas lojas físicas, assim as editoras tiveram de se adaptar reduzindo tiragens, lançamentos, entre outros para evitar queda brusca.
Como mostra reportagem do Estadão de 01/2020, a Saraiva e Cultura representam 40% do faturamento das principais editoras do Brasil e de 2006 à 2018 o mercado editorial caiu 25% e se não fosse as aquisições governamentais dos livros didáticos teria sido pior, contudo sabemos que essas aquisições foram reduzidas, isso são dados da pesquisa Produção e Vendas do setor Editorial Brasileiro, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) sob encomenda da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores.
As redes Livraria Saraiva e Livraria Cultura, que são as maiores no Brasil nesse ramo, anunciaram em 2018 ter entrado em recuperação judicial ( que é uma reorganização econômica, administrativa e financeira de uma empresa, feita com a intermediação da Justiça, para evitar a sua falência. Via Dicionário Financeiro) com isso várias livrarias de ambas redes fecharam por todo o País, para facilitar a liquidação das dívidas com seus fornecedores em maioria, as editoras.
Segundo dados publicados no O Globo de 11/2018 a Livraria Cultura entrou Outubro/2018 com dívida de R$ 285 milhões, a Fnac (livraria francesa) encerrou as atividades no Brasil e a Laselva decretou falência. Ainda de acordo com Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), a Saraiva deve R$ 282 milhões a editoras e a Cultura R$ 80 milhões.
Para empresários do setor, a turbulência é resultado de uma combinação de má gestão, modelo de negócios equivocado, crise econômica e concorrência na internet.
Essa concorrência na Internet é referente entre outras coisas, a Amazon que possui preços mais baixos dos livros e frete, e chegou no Brasil no momento em que as grandes livrarias das redes Saraiva e Cultura estavam entrando em um descontrole e desviando o foco da venda de livros para a venda de eletrônicos com suas MegaStores.
As dívidas acumuladas influencia diretamente nas editoras pois muitas dessas empresas não terão condições para manter funcionários, ou fluxo de publicações.
Até Junho/2019 a Saraiva fechou as portas de aproximadamente 30 lojas ficando com 74 abertas, e um prejuízo de R$ 22 milhões. via: G1
A comodidade das compras online facilitaram para essa crise, levando também em consideração que online conseguimos descontos que lojas físicas não fornecem. Muito podem questionar que os leitores virtuais (e-books), ou ainda os áudios books (livros em áudio) tenham afetado o comércio de livros físicos contudo essa realidade não se aplica pois ambos contribuem para o mercado editorial, mesmo que seja uma pequena porcentagem.
Lendo uma coluna da Folha datada de 01/2020 as empresas Saraiva e Cultura juntas fecharam 54 lojas, e continuam no vermelho. Saraiva teve um prejuízo líquido de R$ 155,4 milhões em 11 meses de 2019, e devido a recuperação judicial um dos pedidos foi o afastamento do CEO, Jorge Saraiva Neto, bisneto do fundador da empresa.
A Cultura em 11 meses de 2019 apresentou prejuízo líquido de R$ 37,7 milhões, lembrando que a Cultura está no vermelho desde 2012 e ainda assim em 07/2017 o presidente da empresa Sergio Herz comprou a Fnac e em 26/12/2017 fez a aquisição de 100% da Estante Virtual (Sim, a Estante virtual era da Cultura), sendo que em 2018 abriu pedido de Recuperação Judicial.
A única coisa que podemos tirar disso é que a Livraria Cultura queria crescer por aquisição de negócios, que sabemos hoje que não funcionou. E em Janeiro/2020 a Estante Virtual foi leiloada e arrematada pela Magazine Luiza por R$ 31,1 milhões de Reais.
O problema real da crise das livrarias não é a falta de leitores, muito pelo contrário, foi a pobre gestão de seus empresários, com lojas grandes demais em tempos de recessão e falta de administração de operações do dia a dia nas livrarias já existentes. O imagem do Mercado Editorial pode mudar mas isso tomará tempo e grande adaptação.